Um menino que só tem uma perna, fuma um cachimbo e usa um gorro vermelho. Um jacaré gigante que atormenta as crianças e uma mula que expele fogo pelo pescoço. Conhecem esses estranhos personagens? Eles fazem parte do riquíssimo folclore brasileiro.
Para prestigiar nossa cultura, em 22 de agosto é comemorado o Dia do Folclore. Algumas histórias desses mitos e lendas variam de acordo com as diferentes regiões do Brasil. Isto porque cada personagem do folclore possui sua própria história e características diferentes. Será que você os conhece?
Saci-Pererê
Há quem diga que o Saci-Pererê é criação dos povos indígenas da Região das Missões, no Sul do País. Verdade ou não, o fato é que o menino negro de uma perna só e gorro vermelho é uma das figuras mais conhecidas do folclore brasileiro. Saci está sempre com seu cachimbo, pulando para lá e para cá ou voando em um redemoinho. Seu passatempo é pregar peças nas pessoas. Ele adora, entre outras travessuras, esconder objetos (que dificilmente são encontrados novamente) ou confundir as pessoas e fazer com que se percam.
Cuca
Quem nunca ficou com medo de ser raptado ao ouvir a cantiga “Nana neném que a Cuca vem pegar…”?
A lenda da Cuca surgiu na Península Ibérica, onde ficam Espanha e Portugal. Lá ela era chamada de “Coca” e tinha a forma de um dragão. Acredita-se que a lenda tenha viajado até o Brasil na época da colonização portuguesa. Mas fama, mesmo, ela ganhou muitos anos depois, nas histórias do Sítio do Pica Pau Amarelo, de Monteiro Lobato. Associada ao bicho papão, a figura da Cuca é usada para fazer medo às crianças que não obedecem seus pais e não querem dormir.
Curupira
Defensor da natureza, o Curupira vive nas matas brasileiras, espantando quem quer destruir as matas. Para cumprir sua missão, a criatura de cabelos vermelhos e pés virados para trás emite sons e assovios que dão medo. É muito difícil encontrá-lo, pois, quando anda, suas pegadas vão marcando o caminho contrário que ele está fazendo.
Lobisomem
O nome já diz tudo. É a mistura de lobo com homem. Diz a lenda europeia que, quando uma mulher tem sete filhos e o oitavo nasce homem, este último será um Lobisomem.
Ao longo do dia, ele é homem. A partir da meia-noite, nas noites de lua cheia, se transforma em um lobo enorme que anda sobre as patas traseiras. Ele se alimenta de sangue, e, segundo a mitologia, é violento.
Mula sem cabeça
Imagine uma mula – uma cria de jumento com égua – que, no lugar da cabeça, tem uma chama fortíssima. É a mula sem cabeça. A lenda explica a sua origem assim: trata-se de uma mulher que foi amaldiçoada por namorar um padre. Nas noites de quinta para sexta-feira, ela se transforma no animal e sai galopando na escuridão, assustando quem a encontra pelo caminho.
Boto
A lenda do boto tem origem na região Amazônica, onde é comum encontrar botos (mamíferos aquáticos parentes dos golfinhos) nos rios e igarapés.
Dizem que, nas noites de festa junina, na Amazônia, o boto sai do rio e transforma-se em um homem belo e atraente. Ele seduz as mulheres, as leva para o fundo do rio e as engravida.
Negrinho do Pastoreio
Depois de ter sido injustamente acusado de perder um dos cavalos do seu senhor, um menino escravizado teve que voltar ao pasto para recuperar o animal. Como não o encontrou, o patrão o fez passar a noite dentro de um formigueiro. No dia seguinte, o garoto estava livre, sem nenhum ferimento e montado no cavalo baio que havia sumido. Pela lenda, foi um milagre que o salvou. O Negrinho do Pastoreio é uma lenda típica da região Sul e o menino é considerado o protetor das pessoas que perdem algo.
Iara ou Mãe d’água
A Iara lembra muito as sereias que aparecem nas lendas de outros países. Da cintura para baixo, é peixe. Da cintura para cima, é uma mulher lindíssima, de longos cabelos, que canta e se penteia à luz da lua nos bancos dos rios. Dizem que ela atrai os homens para os rios e os afoga.
Boitatá ou cobra-de-fogo
A lenda do boitatá pode mudar bastante de um estado para o outro. Mas a descrição mais comum é de uma cobra enorme, com grandes olhos brilhantes e o corpo envolto em chamas.
No Sul do Brasil, contam que houve um grande dilúvio e que só uma cobra, que dormia em sua toca, escapou com vida. Quando acordou e saiu, a cobra deparou com os bichos mortos e, bem feliz, tratou de comer sua parte preferida: os olhos deles. No entanto, quanto mais comia, mais se enfraquecia – os olhos não eram nutritivos o suficiente para deixá-la saudável. Acabou morrendo e virou uma cobra que ilumina as noites da mata com o brilho de milhares de olhos.
Matinta Pereira
Esta é mais uma lenda que varia de acordo com a região do Brasil. De um modo geral, a Matinta é descrita como uma velha bruxa que, de noite, se transforma em um pássaro agourento (isto é, que anuncia más notícias). Ela se instala no telhado das casas e pia bem alto até que seus moradores digam, em voz alta, que ela passe no dia seguinte para ganhar fumo, comida ou bebida. De dia, já em sua forma humana, a velha senhora volta para cobrar as promessas. Se não receber o que foi ofertado, ela amaldiçoa os moradores.
Em alguns lugares do Brasil, a Matinta não vira pássaro – em vez disso, ela tem um, de estimação, conhecido como Rasga-Mortalha.
Caipora
Essa criatura fantástica é comumente confundida com o Curupira por também ser protetora dos animais e guardiã da floresta. Há quem a descreva como uma mulher indígena baixinha, de cabelos vermelhos e orelhas pontudas. Outros dizem que é um homem peludo, também baixinho. Armada com um bastão na mão, a Caipora percorre a floresta montada em um enorme porco do mato.
A Caipora gosta muito de fumar. Sabendo disso, caçadores a presenteiam com fumo de corda, que deixam perto do tronco de uma árvore. Assim, ela os deixará em paz naquele dia – desde que não cacem fêmeas prenhas (grávidas).
Mapinguari
Esse ser lendário seria o equivalente brasileiro ao pé grande. Peludo, gigantesco e fedorento, o Mapinguari tem garras compridas, braços muito longos, um só olho no meio da testa e uma boca enorme, cheia de dentes afiados, no lugar do umbigo. Ele se esconde nas florestas densas. Quando aparece, destrói tudo pelo caminho, assustando e devorando animais e até pessoas.
Corpo-seco
Mais conhecido em alguns estados das regiões Sul e Sudeste do Brasil, o Corpo-seco é um morto-vivo que aterroriza quem cruza o seu caminho. A lenda conta que ele era um homem tão mau que, ao morrer, não foi aceito nem no céu, nem no inferno. Mesmo a terra não o recebeu. Por isso, não fica enterrado e seu corpo não se decompõe. Por outro lado, como não está vivo, não se alimenta, sendo só pele e osso. Suas unhas e cabelos nunca param de crescer, o que deixa a sua aparência ainda mais pavorosa.
Boiúna, Cobra Norato e Maria Caninana
São três criaturas míticas do folclore amazônico. Boiúna é uma serpente gigantesca que vive nas profundezas dos rios e tem o poder de controlar as águas, os peixes e os seres que vivem na floresta. Pode devorar pescadores, afundar barcos e, até mesmo, engravidar mulheres.
Foi assim que surgiram os gêmeos Cobra Norato e Maria Caninana, duas cobras enormes, filhas de uma mulher indígena que engravidou ao se banhar num rio ao luar. Maria Caninana era amargurada e cruel. Seu passatempo era causar destruição e aterrorizar banhistas, viajantes e ribeirinhos. Já o irmão, Cobra Norato, era generoso e heroico, e estava sempre salvando a vida de humanos e de seres aquáticos. À noite, transformava-se em um homem bonito e bem vestido e saía para se divertir em bailes – ele dançava muito bem.
Cobra Norato e Maria Caninana tiveram uma briga terrível e o irmão saiu vitorioso, matando a gêmea malvada. Depois disso, ele adquiriu forma humana permanentemente ao conseguir convencer um soldado de quebrar o encanto que o mantinha cobra de dia e homem de noite.
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